Coreia do Sul recicla 97% de seus resíduos alimentícios

 

Segundo os dados mais recentes do Sistema Nacional de Gestão de Resíduos, de 2022, a Coreia do Sul processa todos os anos cerca de 4,56 milhões de toneladas de restos de alimentos, provenientes de residências, restaurantes e empresas menores. Deste volume, 4,44 milhões de toneladas são recicladas para outros usos. Isso significa que cerca de 97,5% dos resíduos de alimentos são reciclados.

Este é um índice extraordinário. Se compararmos com os Estados Unidos, por exemplo, a Agência Ambiental americana calcula que, dos 66 milhões de toneladas de resíduos de alimentos gerados em 2019 por restaurantes, residências e supermercados, cerca de 60% acabaram no lixo.

Estimativas das Nações Unidas indicam que, em 2019, o desperdício de alimentos em residências, estabelecimentos varejistas e restaurantes de todo o mundo atingiu 931 milhões de toneladas.

A ONU chama a atenção para este problema todos os anos, no dia 29 de setembro – Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda (na cadeia de produção) e o Desperdício (em residências e restaurantes) de Alimentos.

Mas como a Coreia do Sul consegue reciclar seus resíduos alimentares de forma tão eficiente? E o que outros países podem aprender com este sistema?

Campanhas e protestos

O sistema sul-coreano de reciclagem de alimentos é o resultado de um esforço que durou décadas.

Em 1996, a Coreia do Sul reciclava apenas 2,6% dos seus resíduos de alimentos. Mas tudo mudou durante a rápida transformação da economia do país, que teve início nos anos 1980.

“A década de 1980 foi um período fundamental para o desenvolvimento econômico da Coreia do Sul”, destaca Jang. “Com a industrialização e a urbanização, surgiram também problemas sociais e um deles foi a gestão dos resíduos.”

A Coreia do Sul tem mais de 50 milhões de habitantes e alta densidade demográfica: mais de 530 pessoas por quilômetro quadrado. No Brasil, por exemplo, a densidade demográfica é de pouco menos de 24 habitantes/km², segundo o IBGE.

As mudanças econômicas ocorridas na Coreia do Sul trouxeram o aumento dos aterros sanitários. E alguns deles ficavam próximos às regiões povoadas, o que gerou protestos.

Os restos de alimentos, misturados com outros tipos de resíduos, causam mau odor e produzem efluentes líquidos, além de contribuírem para as mudanças climáticas.

Os restos de alimentos em decomposição são uma fonte de metano, que é um gás do efeito estufa ainda mais potente que o dióxido de carbono. E surgiram campanhas organizadas pelos cidadãos, exigindo uma resposta para o problema dos aterros.

“Havia um forte sentido de comunidade, que pretendia abordar os problemas sociais em conjunto”, relembra Jang, “e as políticas de gestão de resíduos do governo, combinadas com esforços em nível nacional, levaram ao ponto onde estamos hoje.”

Em 1995, foi aprovado um sistema de pagamento pelo volume gerado de resíduos. Mas os restos de alimentos ainda não eram separados do lixo em geral.

Em 2005, lançar restos de comida em aterros sanitários passou a ser proibido por lei. E, em 2013, surgiu o sistema atual de Taxa sobre Resíduos de Alimentos por Peso (WBFWF, na sigla em inglês).

O sistema continua evoluindo conforme a tecnologia avança, mas se baseia em um princípio básico: “você deve pagar sempre que jogar fora seus restos de comida”.

Fontes: BBC Brasil – Outubro 2024

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